24.4.10

Mais Verne no Terra Magazine

No final de janeiro, noticiei aqui que o colunista e escritor Roberto de Sousa Causo havia feito um especial sobre ficção científica e o século XIX em seu espaço no site Terra Magazine. Naquela ocasião, ele havia escrito a resenha "Atirando para a Lua"  sobre o livro Da Terra à Lua, de 1865. Agora, ele acabou de voltar ao tema para escrever sua análise da continuação daquela obra de Jules Verne (1828-1905): Autour de la Lune, de 1870, que, assim como o primeiro romance, serviu de base para a minha noveleta na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, da qual Causo também participou.

Em "Cápsula Lunar", o resenhista compara as duas obras, separadas por meia década entre a publicação de uma e outra, atualizando alguns pontos do que atualmente se sabe em termos de viagens espaciais e que era assunto apenas de especulação na época em que o escritor francês imaginou suas aventuras extraordinárias. Abaixo, um trecho da crítica e a capa do livro, que ganhou uma edição em português pela espanhola RBA Coleccionables, disponível em bancas do Brasil, mas, infelizmente, ausente do território catarinense.


Se Da Terra à Lua é um romance cômico pela gozação de tipos humanos e nacionalidades, À Roda da Lua apóia seu humor quase que exclusivamente no tripulante Michel Ardan (aportuguesado para "Miguel", nesta edição traduzida para o português europeu), cujo romantismo contrasta com a personalidade pragmática dos outros dois, Barbicane e Nicholl. Nessa oposição, ocorre também o choque entre a cultura literária e a científica, e Verne tem a oportunidade de dar as explicações didáticas que o caracterizavam, conforme os americanos vão explicando ao francês como funciona a mecânica celeste ou o que se sabe sobre a geografia da Lua.

Há uma incrível presciência em alguns dos detalhes. A cápsula com três homens - como aquelas do Programa Apollo da NASA -, a descrição desoladora da Lua, assim como a amerissagem no Oceano Pacífico, com o projétil-cápsula sendo resgatado por um navio da marinha americana.

Mas como não poderia deixar de ser, Verne nos apresenta uma infinidade de hipóteses e especulações científicas que transitavam na época, mas que não foram confirmadas pela ciência do século 20. Entre elas, a existência de um segundo satélite da Terra, um asteróide que orbitaria o nosso planeta entre a Terra e a Lua - e que, tendo quase se chocado com a cápsula dos heróis, interfere com sua trajetória, impedindo-a de tocar a superfície da Lua. E Verne aposta na origem vulcânica das crateras lunares, resumida em uma citação do astrônomo franco-catalão François Jean Dominique Arago (1786-1853): "Para a produção do relevo lunar não contribuiu ação alguma exterior à Lua." Não deixa de ser irônico que os dois especialistas em balística, Barbicane e Nicholl, não tenham apreciado as crateras como resultantes do impacto de projéteis espaciais - ainda mais considerando que o próprio Verne dramatiza dois quase-encontros fatais com bólidos viajando no espaço.

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